SILVA, Maria Eleni Henrique da[1]
No enfrentamento dos dilemas do cotidiano, dois professores que findavam mais uma etapa de processo de formação e instigados por este a alçar vôos e implementar as novas possibilidades e inovações apreendidas, se viram diante de algumas ponderações. O mais ressabiado deles pensava acerca das dificuldades e dos ‘perigos’ que enfrentaria. O medo de se expor ao expor os ‘conteúdos que recebera’ e as novas metodologias, diante dos estudantes e dos demais colegas de profissão; o receio de ser argüido pela gestão autoritária da escola acerca das mudanças que implementaria; a falta de tempo que teria, para melhor estudar o que aprendera, em virtude da grande carga horária que possui nas três escolas que trabalha; a escassez de material na escola que o obrigaria a usar mais a criatividade e viabilizar meios alternativos.
Eram questões não tão fáceis de serem administradas naquele momento pelo fragilizado professor. Ele se via diante de uma decisão que precisava tomar: ignorar o processo de formação que participara e esquecer a ‘história de inovar’ sua forma de ensinar com as metodologia e práticas pedagógicas que a ele foram apresentadas; ou investir em mudanças e correr os riscos que isto traria?
Temeroso com o turbilhão de pensamentos que o amedrontavam, resolveu que continuaria seu trabalho como sempre o fez, de forma mais segura, controlada e repetindo o que já sabia, embora nem sempre desse certo. E isso o deixou mais tranqüilo, mesmo que lamentasse o tempo perdido com o processo formativo a ele destinado. E já não tinha tanta esperança de que aquelas mudanças fossem possíveis para ele. E assim, pouco tempo depois, lá estava ele de volta ao seu mundo e as suas idéias de sempre, às vezes feliz e, noutros momentos, desgostoso e insatisfeito com o seu trabalho.
O outro professor, também consciente das dificuldades que haveria de passar, foi acometido pelo mesmo turbilhão de pensares acerca das barreiras que teria que vencer pela frente, mas resolveu que não continuaria a reproduzir o mesmo trabalho de sempre, fechado em si mesmo e sem dar ouvidos ao que propunham de novo. Decidiu enfrentar o desconhecido caminho que precisaria percorrer. E assim o fez, ao romper as paredes da segurança que o cercavam e lançar mão do que aprendera e das novas experiências que fervilhavam em sua mente. Alçou vôo rumo aos perigos que sabia o esperavam lá no chão da escola. Apostou no novo e na possibilidade de fazer diferente.
Assim, ao iniciar este processo de formação, com o relato desta história que traça o percurso formativo e as experiências de dois professores ao longo da trajetória profissional, trazemos a tona os seguintes questionamentos: como temos pensado nossa formação permanente? Será que já perdermos as esperanças e não acreditamos mais nas possibilidades de mudanças que possam advir deste processo, diante de tantos problemas que o cenário educativo nos revela, tal como fez o fragilizado e ressabiado professor? Ou será que preferimos continuar a correr os riscos e investir em caminhos que nos permitam tentar vivenciar o novo diante dos inúmeros desafios, como fez o segundo professor?
[1] Professora do Instituto de Educação Física e Esportes da Universidade Federal do Ceará. Atualmente realiza os estudos do doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba.
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